Depois de mais de cinco anos, minha mãe veio me visitar pela primeira vez. Ficou apenas duas semanas, mas foram duas semanas bem intensas. Ela saiu daqui muito feliz e sei que, dentro dela, alguma coisa mudou. Nem que seja apenas a forma como ela “enxerga” e “percebe” o meu lar.

Mas, o que hoje me faz refletir e escrever esse texto foram as coisas pelas quais ela se encantou por aqui. Coisas que não me lembro terem sido tão dominantes assim quando eu cheguei. Por exemplo:

– Filha, tira uma foto minha nessa calçada. Quero mostrar para as pessoas como elas são largas aqui. (…) Você já percebeu que essa calçada é mais larga que a rua onde moro?

E era mesmo.

– Filha, está ouvindo? Pare e escuta. Não tem buzinas! Que silêncio.

– As cidades aqui não têm parques. São os parques que têm cidades. Quanto verde. Quantas flores. (Ok, ela veio no verão. Ela não diria o mesmo no inverno. Rsrsrs)

– Cadê o colorido nas roupas? Cadê as estampas? O verão deveria começar nas pessoas. Elas não deveriam esperar que esteja sol para estarem mais leves. (Além de minha mãe, também é sábia.)

– Fui pro parque sozinha. Sentei num banco e rezei. Pedi para Deus permitir que você continue aqui. Que você nunca seja obrigada a voltar para o Brasil. Só se você quiser. Essa segurança, essa paz… Você não tem mais lá.

– Eu vou voltar. Pode ter certeza. Aí você me mostra o resto.

– O importante é estar feliz. Você está? Eu também estou.

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A calçada. A minha mãe.

Eu estou feliz. E com uma saudade ainda maior no peito.