Uma das primeiras coisas que notei por aqui, depois de entrar no mercado de trabalho, é a falta de empreendedorismo das pessoas. Impressionante como alemão tem medo de correr e assumir riscos.
O Estado, de certa forma, não estimula certas iniciativas. Se você fica desempregado, o objetivo da agência de trabalho é fazer com que você arrume um novo emprego, porque é mais seguro e estável.
Há linhas de financiamento e apoio para quem quer montar o seu próprio negócio, mas são informações que precisam ser garimpadas. As pessoas são, muitas vezes, desestimuladas também tamanha a burocracia e a complicação para obter certos benefícios. Mas, para ficar desempregado e receber ajuda social, inflando a máquina do governo, tudo é mais fácil. Até porque, na modalidade “autônomo” há apenas duas possibildades: ou você ganha muitíssimo pouco para não precisar pagar impostos, mas ainda assim, precisar da ajuda social do governo pra viver; ou você ganha muito bem para conseguir pargar os impostos e seguros necessários. Não há um meio termo… não há estímulo ao crescimento. A pessoa já tem que começar bombando no negócio.
Conheço casos de mulheres que seriam capazes de serem autônomas, mas não têm seus potenciais reconhecidos e estimulados. “Melhor mesmo é procurar um emprego, moça”. Falta também um pouco do conceito de “empowerment”. Com o tempo, só procurar emprego e receber negativas (ou às vezes nem receber resposta alguma) cansa e baixa a estima. Principalmente, se você é mulher e estrangeira. Sei do que estou falando, infelizmente.
Eu percebo essa falta de estímulo ao empreendedorismo até no discurso. Recentemente, fui assistir uma palestra só para mulheres, sobre as formas possíveis para trabalhar como autônoma. A palestrante só falava das desvantagens, dos impostos e seguros que pagaríamos, de números e porcentagens. No final, vi muita mulher pensando em desistir dos sonhos.
Cara, se fosse eu a palestrante, meu discurso ia ser completamente diferente. “Tem que pagar isso e isso, mas, em compensação, você tem essa e essa liberdade, essa ou essa escolha”. Ou “você tem esse e esse benefício, em troca, você paga esse imposto”, entre outras alternativas mais positivas.
Aí junta o medo cultural do alemão de correr riscos + burocracia e altos custos + um discurso desestimulante e temos uma sociedade com pouca autonomia e liberdade.
Contudo, sabe quem está mudando esse cenário, principalmente aqui em Berlim? Os estrangeiros. Se já saíram do seu país, já assumiram riscos. Montar um negócio para garantir sua independência financeira só é mais um passo.
Vamos lá mudar a cara desse país, né?